30 de dezembro de 2016

RESENHA | Doadores de Sono — Karen Russell

Título: Doadores de Sono
Título Original: Sleep Donation
Autor: Karen Russell
Editora: Record
Páginas: 168
Lançamento: 2016
Onde comprar: Buscapé

Sinopse:

Quando pesadelos são reais, dormir é um privilégio

Uma epidemia assola os Estados Unidos. Milhares de pessoas perdem a capacidade de dormir. Conheça a Corpo do Sono, uma organização que persuade sonhadores saudáveis a fazer doações para os insones. Sob o comando dos enigmáticos irmãos Storch, o alcance da Corpo do Sono só cresce, e ela já está presente nas principais cidades americanas. Trish Edgewater, cuja irmã, Dori, foi uma das primeiras vítimas da insônia letal, há sete anos recruta doadores para a organização. Mas sua crença na empresa e nas próprias motivações começa a vacilar quando ela é confrontada com a Bebê A, a primeira doadora universal, e com o misterioso e maligno Doador Q. 

Opinião:
“[...] Má notícia pessoal: o relógio parou para a humanidade. O tempo logo será ele próprio anacrônico e, da forma que a nossa espécie o viveu neste planeta, deixará de existir. Terá fim a dualidade entre luz e trevas. Terá fim o dia vermelho ativo, a noite azul que se dissolve. A luz do sol já não é mais o catalisador da consciência, o que permite formar nossas personalidades, organizar nossas identidades sobre o travesseiro a cada manhã. Esses cientistas da televisão preveem “uma desertificação global de sonhos”. Logo, prometem, o distúrbio afetará a todos nós. O sono entrará em extinção. E, por fim, a não ser que encontremos uma forma de sintetizá-lo, teremos o mesmo destino.” — Pág. 18
Uma premissa diferente que grita por atenção, uma sinopse que nos incita a leitura, nos faz querer descobrir o que as poucas páginas ocultam, uma capa bonita e chamativa (na minha opinião) e um comentário de ninguém menos que o mestre Stephen King nos dizendo que Doadores de Sono é um misto brilhante de ficção científica hard com fantasia e ficção científica clássica. Livro digno de um Prêmio Hugo.” Quem não se interessaria?

Eis o poder persuasivo do marketing, eles me fizeram crer que seria uma ótima leitura, e o que eu encontrei? Minha maior decepção literária dos últimos anos! Fazia muito tempo que eu não pegava um livro assim, com um enredo que tinha um grande potencial, com uma ideia inovadora (eu não conheço nenhum outro semelhante) e que simplesmente resultou num livro tão fraco que, quando você termina a maçante leitura, só quer dizer para todos que não percam seu precioso tempo.

Depois de lido, eu até levantei uma teoria: se o objetivo da autora era combater a insônia com esse livro, ela cumpriu com seu objetivo, pois em vários momentos durante a leitura eu peguei no sono. A autora sabe escrever, sua narrativa é bem desenvolvida, ela realmente tem potencial e talento. Mas acho que ela se perdeu no caminho, me parece que ela saiu para fumar um “baseado” com os amigos e continuou escrevendo, porque tem umas partes do livro que são verdadeiras viagens (Ex.: Campo de Papoulas, para quem ainda vai insistir na leitura), coisas que fogem demais da realidade, cenas psicodélicas em que você se perde, não sabe se aquilo realmente está acontecendo ou se você está delirando.

“[...] O pânico aumenta vertiginosamente. Janelas permanecem iluminadas até a madrugada, cada casa do país emoldurada por retângulos amarelos de luz como se bairros inteiros estivessem tendo uma reação alérgica à crise do Doador Q. Até mesmo as pessoas sem histórico algum de insônia ou de transfusões de sonhos ficam subitamente temerosas de se enfiar na cama.” — Pág. 63
Nem vou me ater em falar do enredo em si, a sinopse já expõe o suficiente, o livro até começa bem, mas da metade pro final (?) ele se perde totalmente. Mesmo o livro sendo curto, menos de 200 páginas com fonte grande, a leitura é um tanto cansativa e não rende, suas pálpebras pesam e você dorme, literalmente.

(?) Mas que final? O livro é neutro e ainda por cima não é concluído, tem um enorme final aberto. Farei uma analogia para tentar explicar: sabem quando há um grande acontecimento (digamos uma catástrofe) e a mídia começa a dar notícias a cada minuto e fazer diversas reportagens sobre o assunto... e depois de alguns dias deixa totalmente de lado? Eu tive a mesma sensação com essa leitura, a epidemia de sono está acontecendo, o livro relata uma parte dos acontecimentos por um tempo e simplesmente desiste de notificar, sem terminar o assunto.

Eu detesto falar mal de um livro, até cogitei não escrever essa resenha, mas achei de grande utilidade pública expor a minha opinião para que os leitores tenham uma ideia do que lhes espera. Claro, podem haver pessoas que irão amar o livro, mas sinceramente eu não recomendo a sua leitura. O livro recebe
Conta ai pra gente: qual foi a sua leitura mais decepcionante de 2016?

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