28 de outubro de 2016

RESENHA | Confissões do Crematório — Caitlin Doughty

Título: Confissões do Crematório 
Título Original: Smoke Gets in Your Eyes
Autora: Caitlin Doughty
Editora: DarkSide Books
Páginas: 260
Lançamento: 2016
Onde comprar: Amazon

Sinopse:

Ainda jovem, Caitlin conseguiu emprego em um crematório na Califórnia e aprendeu muito mais do que imaginava barbeando cadáveres e preparando corpos para a incineração. A exposição constante à morte mudou completamente sua forma de encarar a vida e a levou a escrever um livro diferente de tudo o que você já leu sobre o assunto.

Confissões do Crematório reúne histórias reais do dia-a-dia de uma casa funerária, inúmeras curiosidades e fatos filosóficos, históricos e mitológicos. Tudo, é claro, com uma boa dose de humor. Enquanto varre as cinzas das máquinas de incineração ou explica com o que um crânio em chamas se parece, ela desmistifica a morte para si e para seus leitores.

O livro de Caitlin – criadora da websérie Ask a Mortician – levanta a cortina preta que nos separa dos bastidores dos funerais e nos faz refletir sobre a vida e a morte de maneira inteligente, honesta e despretensiosa – exatamente como deve ser. Como a autora ressalta na nota que abre o livro, “a ignorância não é uma bênção, é apenas uma forma profunda de terror”.

Opinião:

Caitlin Doughty não é uma escritora comum, formada em História Medieval pela Universidade de Chicago, além de ser escritora é também Youtuber e o mais impressionante, é agente funerária e a partir da experiência adquirida no seu trabalho que ela escreveu as Confissões do Crematório.

Desde os 8 anos, quando viu uma criança, de cerca de 10, cair do alto de uma escada rolante e ouviu um baque seco ecoar pelo shopping que Caitlin ficou fissurada pela morte. Esta fissura foi evoluindo de medo, pavor, algo normal para uma criança traumatizada por uma cena que seria forte para qualquer pessoa, até chegar a um imenso respeito pelo ato e pelas pessoas que não estão mais presentes em nosso mundo.

Você já pensou em como a morte é? Muitos de nós estamos apenas preocupados com a vida e com o que fazemos hoje, ou o máximo que pensamos é para onde vamos depois de morrer. Em Confissões do Crematório você terá outra experiência sobre o assunto, você verá como a morte é tratada em mundos distintos, mas não apenas do que diz respeito à crenças, mas especificamente da parte dos rituais de cada religião, região e até mesmo do nosso tempo. Usando sua experiência de anos de trabalho no meio mortífero, Caitlin expõe ao leitor desde informações de como um corpo é embalsamado ou então cremado, até qual o pensamento que determinado povo tinha no passado sobre a morte passando pelos rituais que algumas religiões estão acostumadas a fazer.

Este livro de não ficção faz com que você se sinta exatamente como Caitlin se sentiu desde que viu aquela menina cair da escada, começa dando medo, você provavelmente não vai dormir na primeira noite, pensando nas pessoas próximas a você que já morreram, trazendo aquele sofrimento pelo qual passou reviver na sua mente. Mas ela acaba lhe levando para o mesmo caminho ao qual ela chegou como Agente Funerária, você começa a se interessar pela história de determinados lugares, vê o quão interessante era o pensamento daquele povo ou até mesmo pensa como alguém mais inteligente que um cachorro pode acreditar em tal ritual escroto e banal.

Confissões do Crematório não é um livro para pessoas fracas, você precisa ser frio para lê-lo, para compreender o que a autora quer realmente passar como mensagem. Se você espera história sobre como as pessoas morreram ou até mesmo algum romance iniciado em uma funerária, este não é o livro para você. Caitlin passa a visão fria do trabalho, criticando a maneira como as coisas são feitas no mundo, principalmente nos Estados Unidos, onde pessoas procuram ganhar dinheiro com a morte dos outros e se quer se compadecem com a dor alheia ou respeitam o corpo que estão “tratando”, agindo de maneira fria e sem preocupação em busca somente de dólares. E ninguém melhor que a autora para fazer essa crítica, pois se formou em História Medieval, que escolheu estudar principalmente para conhecer os rituais feitos com os mortos em cada um dos povos antigos.

O livro tem um início pesado, com a autora contado sua primeira experiência com um corpo, o barbeando, logo após ser contratada para seu primeiro emprego.
Na parte superior da edição nacional do livro está escrito “Um Livro Para quem Planeja Morrer um Dia” e é exatamente isso que ele é, um livro para você refletir de como você quer que seu corpo seja tratado, de como você acha justo que alguém lhe pegue quando você não tiver mais ali para conferir o que está sendo feito com você.

E por falar em capa, QUE CAPA!!! Sem dúvida está no Top 5 dos livros que eu tenho na estante. Se você não gosta do assunto ou não quer ler sobre isso, vale a pena comprar o livro nem que seja por causa da edição, a capa em relevo, com um olho centralizado, as páginas com a borda em vermelho e cada detalhe dentro dele são magníficos, mais uma bela edição da DarkSide, mas sem dúvida a melhor de todas.

Ah e não estou brincando quando falo que vale a pena comprar o livro mesmo que você não queira ler ele agora, em algum momento da sua vida ele será importante, fará sentido e será uma leitura muito importante e agradável. Não foi nem de perto o melhor livro que eu li, existem algumas coisas na construção dele que o deixam maçante, mas é um exemplar necessário para o seu crescimento, que fala de uma maneira aterrorizante como pode ser a sua morte ou a morte de uma pessoa querida abordando um assunto que não é aquele banal de "existe vida ou não após a morte" ou "você será julgado pelos seus pecados e ira para o inferno", ele nada mais é do que um livro que você precisa ler antes de morrer. O livro recebe

2 comentários:

  1. Bom, em um mundo onde todos criticam livros de youtuber, essa resenha me deixa feliz.
    Acredito que há excessões em cada gênero e sempre devemos buscar e nos inspirar nos melhores.
    Ótima resenha, como sempre.

    Abraços
    naciadelivros.blogspot.com.br

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